Por Jane Maiolo
Tenho-vos dito isto, para que em mim
tenhais paz, no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o
mundo.[1]
O brado de revolta de Juliano , o último
imperador romano pagão, ainda ecoa nas estruturas mais intrínsecas da nossa
inconsciência:”Vencestes, ó Galileu!”
Fato ou ficção a história de Juliano, o imperador
de Roma , que foi morto numa batalha sangrenta contra os persas em 363, alastrou-se pelo mundo da imaginação dos
historiadores, filósofos, escritores, crentes e pagãos.O nobre césar não
admitia que existisse alguém superior a ele e seu programa de governo era
restaurar o paganismo, visto que as seitas religiosas se espalhavam pelo império
fazendo respingar a sombra sobre a sua pretensa luz .Seu governo ficou conhecido como “restauração
pagã”.
Apesar dos brados infantis da criatura humana,
os ensinamentos do sublime Galileu permanecem na atmosfera quase árida das
mentes e corações do homem.
A história religiosa da humanidade sempre
contou com um elemento imponderável: a
vulnerabilidade de seus fiéis seguidores.
A história da religião é muito antiga (inicia com as civilizações) e sempre contou com feitos, refeitos, configurações,
desconfigurações , harmonizações e
desarmonizações implícitas e explícitas.
O Cristianismo dos três primeiros séculos
perdeu-se na poeira dos milênios , deixando pouquíssimas fontes primárias
comprováveis e com valor histórico concreto.
Resgatar o passado é tarefa complexa , exige-se
intuição para não tanger nas ilusões.
O contexto é distinto, os homens são outros, o
comportamento ético-moral-social é indubitalvelmente diferente.
Não fosse a descoberta dos acervos de Nag Hammadi, por um simples beduino em 1945 , documentos escondidos fortuitamente numa região desértica do Egito,
nunca saberíamos que os chamados
“escritos de Nag Hammadi” evidenciam com clareza o processo que conduziu às primeiras
definições dogmáticas que foi tudo menos linear, sujeito a interferências das
mais variadas,e assim não teríamos nenhuma pálida notícia do que foi o primeiro
movimento religioso do então nascente Cristianismo.[2]
Com a descoberta concluiram que havia vários
documentos que traziam em seu conteúdo a forma de conceber e conviver com a
divindade e seus postulados, suas crenças, seus medos, suas aflições, e suas
afirmações.Tais manuscritos foram, na sua grande maioria, considerados
heréticos pelos “pais” da igreja.
Concluiu-se que o mesmo Deus de Abraão , Isaac
e Jacó é também o nosso Deus.O deus antropomórfico dos hebreus cedeu espaço
para uma “Inteligência suprema, Causa primária de todas as coisas”.[3].
A vinda de Jesus, o excelso
Galileu, trazia objetivos claros e específicos de fazer-nos entender Deus como
Pai e aprender amá-Lo como tal. Porém, o Homo sapiens sapiens ainda submerso na
profunda noite da ignorância descobriu mecanismos de controle, manipulação e domínio.
Descobriu-se que o medo era um bom “pastor” e a
política do medo foi uma forma de frear, calar, coibir e demover obstáculos.
A pedagogia do medo foi entronizando no nosso comportamento
ético-moral-social. Educação
comportamental que fomos
recebendo e transmitindo como forma de herança nos códigos genéticos dos
antepassados durante séculos. Mas o pensamento crístico continua
presente, alvissareiro.
O temor não estava no programa divino da
evolução humana , mas foi-nos ensinado como forma de repressão.
Através de uma educação socio-religiosa
coercitiva passamos a temer a Deus, ao fogo do inferno, aos próprios questionamentos,
aos astros do Cosmo, as comunhões sexuais, ao prazer de tudo que é belo, bom e
formoso da vida. Passamos mesmo a temer nossa própria imaginação. Como
afirmaria o destemido Convertido de Damasco ,na sua segunda epístola a Timóteo:
“Porque Deus não nos deu o
Espírito de temor, mas de fortaleza, de Amor e de Moderação”.[4]
Porém, Deus não quer nosso temor, também não
quer nossa filosofia, nossa ciência ou nossa religião.Deus quer apenas nosso
coração disposto a amar.
A paz oferecida pelo Cristo, que não é o
próprio Criador, mas enviado de Deus, não nos impede de enfrentar as tribulações,
aflições, medos, inseguranças, entretanto adverte-nos para que tenhamos bom ânimo a fim de lidar com os desafios futuros.
Após dois mil anos o Galileu segue vencedor,
mesmo sem nunca ter disputado batalha alguma. Segue seguro, incólume, majestoso
deixando um caminho estreito , porém possível de percorrer. Venceste , Ó Galileu
e os homens um dia reconhecerão sua silenciosa vitória .
Referências bibliográficas:
[1] João
16:33
[2] FIORILLO, Marilia Pacheco- O Deus
exilado:Breve história de uma heresia/Rio de Janeiro – Civilizaçãio
Brasileira-2008.
[3] KARDEC,
Allan. O Livro dos Espíritos, questão 01- Rio de Janeiro: Ed FEB, 2007
[4]
II TIMÓTEO, 1:7.
[*] Jane Maiolo – É
professora de Ensino Fundamental, formada em Letras e pós-graduada em
Psicopedagogia. Dirigente da USE Intermunicipal de Jales. Colaboradora da
Sociedade Espírita Allan Kardec de Jales. Pesquisadora do Evangelho de Jesus.
Colaboradora da Agenda Brasil Espírita- Jornal O rebate /Macaé /RJ – Jornal
Folha da Região de Araçatuba/SP –Blog do Bruno Tavares –Recife/PE -
Apresentadora do Programa Sementes do Evangelho da Rede Amigo Espírita.
janemaiolo@bol.com.br -