Pular para o conteúdo principal

EVOCAR “MORTO” PARA QUÊ? O ESPIRITISMO SUPERA TODOS OS FENOMENISMOS Jorge Hessen


Jorge Hessen
Brasília-DF

É evidente que na expressão “o telefone só toca de lá para cá” popularmente atribuída a Chico Xavier não está explícita  a opinião de alguma interdição de se evocar os “mortos”.  Contudo, será que atualmente deve-se provocar, como ocorreu na época de Kardec, a evocação dos espíritos para uma conversinha “agradável” e “amigável”, “franca” e “direta” com os Espíritos, visando obter notícias, revelações e outras informações banais dos mesmos?  Inúmeros neófitos e curiosos procuram grupos espíritas almejando notícias dos entes que “partiram”? Mas, será que a finalidade de um centro espirita é essa?  

Vigilância e prudência não fazem mal a ninguém. Sou dos que não recomenda  a provocação de evocação dos desencarnados, sobretudo se o médium estiver voltado para a recepção de notícias póstumas de Espíritos sofredores (normalmente recém-desligados do físico), pois em todos os casos de intercâmbio com o além a espontaneidade é essencial para a credibilidade das mensagens. 

Até mesmo nas mensagens instrutivas de alto valor doutrinário não há a necessidade de se fazer uma evocação direta, pois pode-se receber espontaneamente mensagens instrutivas de qualquer espírito evoluído. O mais importante neste caso é o exame racional e lógico da mensagem recebida, conforme recomenda o bom senso, para se evitar o desvairo da mistificação.

O Espírito Emmanuel, após ser indagado se era aconselhável a evocação direta de determinados espíritos, esclareceu: “Não somos dos que aconselham a evocação direta e pessoal, em caso algum. Se essa evocação é passível de êxito, sua exequibilidade somente pode ser examinada no plano espiritual. Daí a necessidade de sermos espontâneos, pois, no complexo dos fenômenos espiríticos. A solução de muitas incógnitas [sobre tal tema] espera o avanço moral dos aprendizes sinceros da Doutrina.”[1]

Insatisfeitos com essas criteriosas orientações de Emmanuel, surgem alguns causídicos “espíritas” sucessivamente espicaçados (quase fascinados) pelo fenômeno do intercâmbio com os “mortos”, fazendo referência ao interesse do mestre lionês pela evocação direta para justificarem suas interações com os “finados”. Entretanto, “precisamos ponderar, no seu esforço, a tarefa excepcional do Codificador, aliada a necessidades e méritos ainda distantes da esfera de atividade de aprendizes comuns” [2] tais quais somos.

Para os entusiastas (quase fascinados)  pelos  fenômenos mediúnicos , mormente os que desejam notícias dos parentes mortos,  corroboramos inteiramente as advertências do Espírito Emmanuel  quando explana: “Qualquer comunicado com o invisível deve ser espontâneo, e o espiritista cristão deve encontrar na sua fé o mais alto recurso de cessação do egoísmo humano, ponderando quanto à necessidade de repouso daqueles a quem amou, e esperando a sua palavra direta, quando e como julguem conveniente e oportuno os mentores espirituais.”[3]

Para Kardec, “frequentemente, as evocações oferecem mais dificuldades aos médiuns do que os ditados espontâneos, sobretudo quando se objetiva obter dos Espíritos respostas precisas a questões circunstanciadas. ”[4]  Os médiuns – lembra ainda Kardec – “são geralmente mais procurados para evocações de caráter particular do que para comunicações de interesse geral. Eles não deveriam, porém, aceder a tais pedidos, senão com muita reserva, quando feitos por pessoas de cuja sinceridade estejam seguros. Além disso, é preciso evitar sua participação nas evocações movidas por simples curiosidade ou interesse, sem intenção séria por parte do evocador, afastando-se de tudo o que possa transformá-los em agentes de consultas, em ledores da buena dicha.” [5]

Evocar um “morto” é questão que precisa, portanto, ser bem avaliada, tendo sempre em mente a finalidade a que ela se presta. No livro Conduta Espírita, cap. 25, André Luiz reafirmou a proposta feita por Emmanuel, recomendando-nos seja “abolida, em nosso meio, a prática da evocação nominal dos espíritos.”[6]

Não tendo havido informações novas, provindas de fontes robustas, confiáveis e consagradas, não concebo por que a recomendação de Emmanuel, reafirmada por André Luiz, deva ser ignorada.  A comunicação com os Espíritos efetua-se por iniciativa deles. A frase "o telefonema vem do lado de lá", dita por Chico Xavier, diz bem como o assunto deve ser encarado com mais seriedade em qualquer contexto do debate sobre o tema, até porque o assunto é grave e não tem nada a ver com as mitologias evocadas por alguns “letrados” em Espiritismo.

Referências  bibliográficas:
[1]            Xavier, Francisco Cândido. O consolador , ditado pelo espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001, Questão 369
[2]           Idem questão 380
[3]           Idem
[4]           Disponível em <http://www.oconsolador.com.br/ano2/101/esde.html>acessado em 08 de agosto  de 2016
[5]           idem

[6]           Xavier, Francisco Cândido e Vieira, Waldo. Conduta Espírita , ditado pelo espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001

Postagens mais visitadas deste blog

O livro “Maria de Nazaré” do autor espiritual Miramez pela mediunidade de João Nunes Maia: Uma análise crítica”

Leonardo Marmo Moreira O zelo doutrinário e o cuidado em não aceitar utopias antes delas serem confirmadas é o mínimo de critério que todo espírita consciente deve ter antes de admitir algo dentro do contexto do estudo espírita. Esse critério deve ser ainda mais rigoroso antes do espiritista sair divulgando ou citando, enquanto expositor ou articulista espirita, tais dados ou informações como corroborações a qualquer ideia ou informações, ainda mais quando digam respeito a realidades de difícil constatação, tais como detalhes da vida do mundo espiritual; eventos espirituais envolvendo Espíritos de elevadíssima condição, episódios espirituais de um passado distante, entre outros. Esse tipo de escrúpulo é o que faz com que o Espiritismo não seja apenas uma religião convencional, mas esteja sustentado em um tripé científico-filosófico-religioso, cujo material de conexão dos vértices desse triângulo é a fé raciocinada.  Temos observado confrades citarem a obra “Maria de Naz

A Tangibilidade é uma Manifestação do Corpo Mental

  José Sola Um dos atributos de Deus apresentado por Allan Kardec é de que a Fonte Originária da Vida, em sua essência, é imaterial. Somos ainda informados pelo mestre Lionês, de que o espirito é uma centelha divina emanada do Criador, o que nos leva a concluir que o espirito é imaterial, tanto quanto Deus. E no intento de corroborar o que estamos informando, vamos apresentar algumas questões de Kardec que nos permitirá analisar com maior clareza este conceito. 25 - O espirito é independente da matéria, ou não é mais do que uma propriedade desta, como as cores são propriedades da luz e o som uma propriedade do ar? R – São distintos, mas é necessária a união do espirito e da matéria para dar inteligência a esta. Nestas palavras do Espirito da Verdade fica explicitado que espirito e matéria são elementos independentes, mas que é o espirito o eu diretor da matéria, assim, é ele que propicia inteligência a mesma. 26 - Pode se conhecer o espírito sem a matéria e a matéria

“BRASIL, CORAÇÃO DO MUNDO, PÁTRIA DO EVANGELHO”: UMA ANÁLISE CRÍTICA (PARTE III (CAPÍTULOS 15 ATÉ 23)

LEONARDO MARMO MOREIRA CONTINUAÇÃO DA PARTE II... Capítulo 15 – A Revolução Francesa                 Nesse capítulo, fora o jargão católico que permeia todo o livro, não há maiores pontos de destaque para a leitura de um Espírita militante. Todavia, acreditamos válido dois registros: p.111  “— Anjo   amigo – interpelou um dos operários da luz naquela augusta assembleia...”                                 “Anjo” é uma expressão católica que não tem nenhum valor à luz da Doutrina Espírita. Será que não poderia ser substituída? A Doutrina Espírita não veio ao mundo para proporcionar a cada um de nós a Verdade que liberta da ignorância? Ora, a ignorância espiritual inclui as visões mitológicas a respeito de Espíritos superiores, os quais são Espíritos humanos, trabalhando para o desenvolvimento progressivo de suas qualidades, o que consiste destino comum a todos nós. Cabe a pergunta: será que Allan Kardec, Léon Denis, Gabriel Delanne, André Luiz, Yvonne Pereira, H