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MEDITAÇÃO, EDUCAÇÃO E LABOR (Jorge Hessen)


Jorge Hessen

Ao orarmos, penetramos de alguma forma no universo da meditação. Com o exercício disciplinado dos pensamentos, podemos chegar aos melhores resultados de uma prece. Contudo, o domínio dos pensamentos, considerando a cultura ocidental, é de terrível dificuldade. Quase sempre nós ocidentais construímos pensamentos repletos de ideias vagas, ingênuas, sensuais, arremessamos censuras, mantemos anseios utilitaristas, entulhamos as descargas neurológicas que geram amplo consumo de energia física e mental. Certamente a concentração (meditação) no ambiente adequado pode aliviar a tensão emocional e patrocinar um nível de estabilização e alívio psíquico que tende a refletir no bem-estar físico e espiritual.

Atraiu-nos a atenção a programação do Centro de Educação Infantil Lar de Crianças Ananda Marga, creche municipal localizada no bairro Jardim Peri Alto, na zona norte de São Paulo, administrada pela ONG Amurt-Amurtel, adotando uma linha pedagógica neo-humanista, que estimula o aluno a sentir-se como integrante da natureza que o acolhe. Oferece aulas de yoga e meditação às cerca de 110 crianças matriculadas nessa instituição. Todos os alunos entre zero e três anos de idade realizam prática de relaxamento e massagem. Até os bebês do berçário passam pela técnica.

A proposta é sedutora, pois cremos que uma legítima educação é aquela em que os poderes espirituais regem a vida social. Por outro lado, recordo que no meu tempo de criança, a pureza delas era uma realidade mensurável. A perspectiva da criança não ultrapassava os simples livros didáticos, um único humilde caderno e brinquedos baratos. Para repreendê-las e educá-las, às vezes bastava um olhar firme dos pais. Porém, aquele imaginário infantil, de quietude e sonho ingênuo, desmoronou sob o impacto da era do sensualismo, da violência, do materialismo.

Todo processo de educação constitui-se na base da formação de uma sociedade saudável. A tarefa que nos cumpre realizar é a da educação das crianças pelo exemplo de total dignificação moral. Nesse sentido, os postulados Espíritas são antídotos contra todos os venenosos ardis humanos, visto que aqueles que os conhecem têm consciência de que não poderão se eximir das suas responsabilidades sociais, sabendo que o futuro é uma decorrência do presente. Deste modo, é urgente identificarmos no coração infantil o esboço da futura geração saudável.

Como estamos tratando de educação, evidentemente a educação espírita deve ser mantida restrita aos centros espíritas (para os espíritas), ao lar e, sobretudo, desprovida da roupagem imprópria do sectarismo e do misticismo. O núcleo familiar é o primeiro grupo social do qual participamos e recebemos, não somente herança genética ou de bens materiais, mas principalmente moral. A educação espírita aí tem um papel importantíssimo na formação do caráter do indivíduo, ou melhor, na formação da pessoa como um todo

No que reporta à prática meditativa de vínculos orientalistas adotada pela creche municipal de São Paulo, esta não contém conexões diretas com as finalidades espíritas. Não constam nos cânones das Obras Básicas as técnicas para meditação e yoga, embora não haja rigorosa incompatibilidade com os princípios doutrinários, até porque todo e qualquer exercício que favoreça o equilíbrio espiritual deve ou pode ser estimulado. Entretanto, não se deve confundir as irradiações mentais através da prece com a meditação mística, mormente aplicada pela yoga. Em razão disso, a Doutrina dos Espíritos recomenda que não se instale nos centros espíritas salas específicas para tais meditações (yoga, relaxamento, defumação com ervas, shantala, massagem indiana etc.).

Não obstante haja instituições “espíritas” (não deveria haver) que promovem cursos para técnicas de meditação com base na cultura oriental, é necessário ter cuidado para que esses métodos não descaracterizem a proposta espíritas, até porque as crenças vinculadas às práticas de meditações místicas têm suas próprias instituições, destinadas aos seus adeptos, e certamente nada impede que os “espíritas” ajustados com essas propostas busquem os núcleos não espíritas adequados e aí meditem quando, como e quanto desejarem.

Finalmente, meditar é importante, sem sombra de dúvida, desde que não neutralize nossos afazeres do ganha pão, neutralizem nossos braços e mãos, nem nos faça abdicar dos convites dos Benfeitores Espirituais, uma vez que eles apontam a rota segura de uma meditação produtiva, que não nos hipnotiza com técnicas que centram atenções quase sempre exclusivas em nós mesmos. Não podemos esquecer que Jesus nos conclamou a amar o próximo como a nós mesmos e não o oposto, ou seja, todo o amor, júbilo, contentamento que ansiamos para nós, devemos em condição de equidade ao nosso próximo.

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