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O “outro” e “eu”


Antonio Cesar Perri de Carvalho
Ex-Presidente da FEB 



Há uns tempos ouvi um interlocutor relatando as críticas que faziam a um conhecido dele. Depois de ouvi-las opinou que o personagem montado pelas críticas nada tinha a haver com a pessoa que ele também conhecia.

Esse fato nos veio à mente ao acompanharmos, recentemente, uma entrevista no programa “Roda Viva” (TV Cultura) com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que, atendendo à pergunta sobre as continuadas críticas que recebeu dos governos que o sucederam, comentou que ao analisar as informações verificou que em realidade haviam criado um outro “personagem”. E agora o tempo passou...

O episódio remete a registro do conhecido poeta e escritor argentino Jorge Luís Borges, ao escrever o conto: “Borges y yo”, incluído no livro O fazedor:

“Ao outro, a Borges, é a quem as coisas acontecem. Eu caminho por Buenos Aires e me demoro, acaso já mecanicamente, para olhar para o arco de um vestíbulo e porta interna; de Borges tenho notícias pelo correio e vejo seu nome em uma lista de professores ou num dicionário biográfico”. Comenta as diferenças que ele sente entre o Borges que divulgam e ele próprio. Ao final, encerra o conto: “Eu não sei qual dos dois escreve esta página”.

Realmente, além das críticas há também certos endeusamentos. Por ocasião das evocações do cinquentenário de suas tarefas mediúnicas, Chico Xavier respondeu a uma entrevista: “Sou sempre um Chico Xavier lutando para criar um Chico Xavier renovado em Jesus e, pelo que vejo, está muito longe de aparecer como espero e preciso...”1

A resposta de Chico Xavier é muito coerente com sua maneira simples de ser e também com a assertiva de seu orientador espiritual:

“Sem dúvida, estamos muito longe, infinitamente muito longe da perfeição... Cabe, porém, a nós, aprendizes do Evangelho, a obrigação de confrontar-nos hoje com o que éramos ontem e, a nosso ver, feito isso, cada um de nós pode, sem pretensão parafrasear as palavras do apóstolo Paulo, nos versículos 9 e 10, do capítulo 15, de sua Primeira Epístola aos Coríntios: - ‘Dos servidores do Senhor, sei que sou o menor e o mais endividado perante a Lei, mas com a graça de Deus sou o que sou...”2

Evidente que os relatos em pauta devem merecer reflexões e pautadas na questão 621 de O livro dos espíritos: “Onde está escrita a lei de Deus? – Na consciência”, e, também em O evangelho segundo o espiritismo (Cap. VI. Item 8): “O sentimento do dever cumprido vos dará o repouso do Espírito e a resignação”.

Porém frente às provocações e insinuações – típicas do mundo em que vivemos -, vale a reflexão com base em comentário de Emmanuel:

"Se muitos companheiros estão vigiando os teus gestos procurando o ponto fraco para criticarem, outros muitos estão fixando ansiosamente o caminho em que surgirás, conduzindo até eles a migalha do socorro de que necessitam para sobreviver. É impossível não saibas quais deles formam o grupo de trabalho em que Jesus te espera".3

Bibliografia:
1) Carvalho, Antonio Cesar Perri. O homem e a obra. Cap. Cinquentenário de mediunidade. Ed.USE.
2) Xavier, Francisco Cândido. Benção de paz. Cap.1. Ed. GEEM.
3) Xavier, Francisco Cândido. Material de construção. Cap. Crítica e Serviço. Ed. IDEAL. 

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