José Passini
Juiz de Fora / MG
jose.passini@gmail.com
O Espiritismo, na sua condição de Cristianismo redivivo, não poderia deixar de
receber os ataques das forças contrárias ao esclarecimento e libertação do
espírito humano. Embora pareça um paradoxo, o volume e a intensidade dos
ataques constituem um verdadeiro atestado da legitimidade do Consolador.
A primeira, e
talvez a mais forte das investidas, foi a publicação da obra de J. B.
Roustaing, conhecida, em língua portuguesa como “Os Quatro Evangelhos”.
Na obra
“Brasil Coração do Mundo Pátria do Evangelho”, Roustaing é citado como
pertencente à equipe de Kardec. Há aqueles que contestam a autenticidade de tal
afirmativa. Entretanto, sabe-se que todo missionário que vem à Terra traz
consigo uma equipe, constituída de Espíritos, trabalhadores de boa vontade, mas
sujeitos a falhas. Zamenhof veio à Terra com um grupo de Espíritos para a
implantação do Esperanto. Dentro dessa equipe, houve um Espírito que falhou.
Traiu o grande Missionário, liderando um grupo que apresentou uma versão
modificada do Esperanto numa convenção mundial. Sua falha foi tão grande, que
foi chamado Judas por uma biógrafa de Zamenhof, tal a repercussão da sua
atitude.
Roustaing, embora tenha reencarnado com tarefa definida junto à obra de Kardec, conforme relato de Humberto de Campos na obra “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, foi vítima de Espíritos que se enquadram perfeitamente na classificação de Kardec, como Espíritos pseudo-sábios, conforme item 104 de “O Livro dos Espíritos”:
Roustaing, embora tenha reencarnado com tarefa definida junto à obra de Kardec, conforme relato de Humberto de Campos na obra “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, foi vítima de Espíritos que se enquadram perfeitamente na classificação de Kardec, como Espíritos pseudo-sábios, conforme item 104 de “O Livro dos Espíritos”:
“Seus conhecimentos são bastante amplos, mas acreditam saber mais do que realmente sabem. Tendo realizado alguns progressos sob diversos pontos de vista, a linguagem deles tem caráter sério, que pode iludir quanto às suas capacidades e luzes; porém, na maioria das vezes isso não passa de um reflexo dos preconceitos e das idéias sistemáticas da vida terrestre. É uma mistura de algumas verdades com os erros mais absurdos. Em meio aos quais despontam a presunção, o orgulho, o ciúme e a obstinação, de que não puderam livrar-se.”
Esses quatro
volumes constituem obra fantasiosa, repetitiva, que, em muitos pontos,
contradiz fundamentalmente a Doutrina Espírita. É apresentada em tom
professoral, catedrático, que choca frontalmente com a simplicidade,
objetividade e limpidez das expressões de Kardec e dos Espíritos que dialogaram
com ele.
As citações
que fizermos, respostas dos Espíritos mistificadores que orientaram Roustaing,
todas em negrito vermelho serão referentes à edição de 1971 de Os Quatro
Evangelhos, que difere um tanto daquela de 1942, da mesma editora, pois que
foram suprimidos ataques a Kardec.
Roustaing
pretendeu dar nova versão à tese da virgindade de Maria, através de uma
pseudo-gravidez, que teria culminado no aparecimento de um bebê fluídico,
surgido de uma gravidez enganosa, de um parto fictício, de uma lactação
aparente, de um desenvolvimento físico falso e de uma desencarnação mentirosa.
“Mas, não o
esqueçais: todo aquele que reveste a carne e sofre, como vós, a encarnação
material humana – é falível.” (pág. 166).
Estaria o
Espírito querendo dizer que se Jesus encarnasse estaria sujeito a falhar? Por
isso não teria encarnado?
Jesus viveu a
vida de um homem normal da sua época: trabalhava, comia, bebia, hospedava-se
nas casas das pessoas. Por que mudou completamente seu modo de agir depois da
desencarnação? Não há nenhum registro no Novo Testamento que se tenha hospedado
em casa de alguém, nem que tenha feito refeições regulares, como fazia. É claro
que desejava deixar claro que não mais estava encarnado, que não mais tinha
necessidades materiais.
Seu
enquadramento na vida terrena, enquanto encarnado é claramente demonstrada na
citação abaixo:
“E chegando
sábado, começou a ensinar na sinagoga; e muitos, ouvindo-o, se admiravam,
dizendo: Donde lhe vem essas coisas? E que sabedoria é esta que lhe foi dada? E
como se fazem tais maravilhas por suas mãos? Não é este o carpinteiro, filho de
Maria, e irmão de Tiago, e de José, e de Judas e de Simão? E não estão aqui
conosco suas irmãs? (Marcos, 6: 2
e 3).
Mas, embora
tivesse poderes para fazê-lo quando encarnado, nunca atravessou portas
fechadas, nem apareceu ou desapareceu subitamente, como o fez depois de
desencarnado, demonstrando a imortalidade da alma, apresentando-se apenas com
seu corpo espiritual:
“E oito dias
depois estavam outra vez os seus discípulos dentro, e com eles Tomé. Chegou
Jesus estando as portas fechadas, e apresentou-se no meio deles, e disse: Paz
seja convosco.” (João, 20: 26)
Há outro
relato de aparecimento, este com desaparecimento também:
“E eis que no
mesmo dia iam dois deles para uma aldeia, que distava de Jerusalém sessenta
estádios, cujo nome era Emaús. E aconteceu que, indo eles falando entre si, e
fazendo perguntas um ao outro, o mesmo Jesus se aproximou, e ia com eles. Mas
os olhos deles estavam como que fechados, para que não o conhecessem. E
chegaram à aldeia para onde iam, e ele fez como quem ia para mais longe. E eles
o constrangeram dizendo: Fica conosco porque já é tarde, e já declinou o dia. E
entrou para ficar com eles. E aconteceu que, estando com eles à mesa, tomando o
pão o abençoou e partiu-o, e lhes deu. Abriram-se-lhes então os olhos, e o
conheceram, e ele lhes desapareceu.” (Lucas, 24: 13, 15, 16, 28 a 31).
Se Jesus não
teve um corpo físico, como afirma Roustaing, por que passou a agir de maneira
tão diferente depois da sua desencarnação?
Roustaing
tenta apagar a notável lição de Paulo, no cap. 15 da Primeira carta aos
Coríntios, onde o Apóstolo fala claramente em corpo físico e corpo espiritual.
É interessante
notar a argumentação de Paulo:
“Porque se os
mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou.” (16)
“Mas alguém
dirá: Como ressuscitarão os mortos? E com que corpo virão?” (35).
“Semeia-se
corpo animal, ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo animal, há também
corpo espiritual.” (44)
Se Paulo
entendesse que Jesus tinha só corpo fluídico, não falaria em ressurreição.
Àqueles que
perguntam sobre o que aconteceu com o corpo físico de Jesus – pois que
desaparecera do túmulo – pode-se responder com os trabalhos levados a efeito
por equipes de cientistas internacionais que estudaram o pano sobre o qual o
cadáver de Jesus foi desmaterializado, pano esse conhecido como o Sudário de Turim. Constitui ele
relíquia ciosamente guardada pela Igreja Católica Romana, que retrata a figura
de um homem, de frente e de costas, que sofrera flagelações, tudo coincidindo
com o que se conhece sobre Jesus. Mas, os cientistas não chegaram a conclusão
alguma sobre como fora gravada a imagem. Declaram que não foi pintura, tintura,
queimadura por fogo ou por ácido, nem radiação atômica. Sabemos, nós espíritas,
que seu corpo foi desmaterializado.
Entretanto,
não é a tese do corpo fluídico o ponto mais grave da obra. Há afirmativas que
contrariam frontalmente as bases doutrinárias do Espiritismo. Vejamos algumas,
dentre muitas:
Evolução do
Espírito:
Com Kardec, em O Livro dos Espíritos, aprende-se que o princípio inteligente
percorre, durante milênios incontáveis, as trilhas da evolução, antes de
atingir o estágio de humanidade. Aprende-se que a consciência moral que
caracteriza o ser humano, libertando-o gradualmente do jugo dos instintos,
desabrocha lentamente, revelando a perfeição imanente no Ser:
O Livro dos
Espíritos - 607 a. Parece
que, assim, se pode considerar a alma como tendo sido o princípio inteligente
dos seres inferiores da criação, não?
“Já não
dissemos que tudo em a Natureza se encadeia e tende para a unidade? Nesses seres,
cuja totalidade estais longe de conhecer, é que o princípio inteligente se
elabora, se individualiza pouco a pouco e se ensaia para a vida, conforme
acabamos de dizer. É, de certo modo, um trabalho preparatório, como o da
germinação, por efeito do qual o princípio inteligente sofre uma transformação
e se torna Espírito. Entra então no período da humanização, começando a ter
consciência do seu futuro, capacidade de distinguir o bem do mal e a
responsabilidade dos seus atos. Assim, à fase da infância se segue à da
adolescência, vindo depois a da juventude e da madureza.”
Respondendo a Roustaing, os Espíritos com os quais dialogou, falam numa
transformação do instinto em inteligência – num determinado momento – levada a
efeito por agentes exteriores e não através do próprio processo evolutivo, o
que faz pensar numa espécie de “colação de grau” espiritual. Interessante
notar, também, que o Espírito, depois de todas as aquisições individuais
retorne ao “todo universal”, onde, certamente, perderia a sua individualidade.
Além disso, como teria, um Espírito recém-saído da animalidade ter um
perispírito tão sutil a ponto de quase ser invisível aos Espíritos Superiores?
Vejamos a pergunta de Roustaing e a resposta dos Espíritos:
“Como é que, chegado ao período de preparação para entrar na humanidade, na
espiritualidade consciente, o Espírito passa desse estado misto, que o separa
do animal e o prepara para a vida espiritual, ao estado de Espírito formado,
isto é, de individualidade inteligente, livre e responsável?”
“É nesse momento que se prepara a
transformação do instinto em inteligência consciente. Suficientemente
desenvolvido no estado animal, o Espírito é, de certo modo, restituído ao todo
universal, mas em condições especiais é conduzido aos mundos ad hoc, às regiões
preparativas, pois que lhe cumpre achar o meio onde elaboram os princípios
constitutivos do perispírito. (...) Aí perde a consciência do seu ser,
porquanto a influência da matéria tem que se anular no período da estagnação, e
cai num estado a que chamaremos, para que nos possais compreender, letargia.
Durante esse período, o perispírito, destinado a receber o princípio espiritual, se
desenvolve, se constitui ao derredor daquela centelha de verdadeira vida. Toma
a princípio uma forma indistinta, depois se aperfeiçoa gradualmente como o
gérmen no seio materno e passa por todas as fases do desenvolvimento. Quando o
invólucro está pronto para contê-lo, o Espírito sai do torpor em que jazia e solta
o seu primeiro brado de admiração. Nesse ponto, o perispírito é completamente
fluídico, mesmo para nós. Tão pálida é a chama que ele encerra, a essência
espiritual da vida, que os nossos sentidos, embora sutilíssimos, dificilmente a
distinguem.” (1º vol., pág.
308).
Respondendo a Kardec, os Espíritos ensinam que o Espírito emerge lentamente da
animalidade, das necessidades materiais, através de sucessivas encarnações, ao
longo de milênios sucessivos, que se constituem em oportunidades absolutamente
necessárias ao seu progresso. O perispírito, que sempre reveste o Espírito,
vai-se modificando com o passar do tempo.
Roustaing se refere ao períspirito como se fosse uma roupagem preparada longe
do Espírito que deva usá-la: “Quando o
invólucro está pronto para contê-lo, o Espírito sai do torpor em que jazia e
solta o seu primeiro brado de admiração.”
Afirma, o Espírito que
respondeu a Roustaing : “Nesse
ponto, o perispírito é completamente fluídico, mesmo para nós.” Que perispírito não é fluídico? Seria
apenas naquele momento?
O Livro dos
Espíritos - 609. Uma
vez no período da humanidade, conserva o Espírito traços do que era
precedentemente, quer dizer: do estado em que se achava no período a que se
poderia chamar ante-humano?
“Conforme a distância que medeie
entre os dois períodos e o progresso realizado. Durante algumas gerações, pode
ele conservar vestígios mais ou menos pronunciados do estado primitivo,
porquanto nada se opera na Natureza por brusca transição. Há sempre anéis que
ligam as extremidades da cadeias dos seres e dos acontecimentos. Aqueles
vestígios, porém, se apagam com o desenvolvimento do livre-arbítrio. Os primeiros
progressos só muito lentamente se efetuam, porque não têm a secundá-los a
vontade. Vão em progressão mais rápida à medida que o Espírito adquire mais
perfeita consciência de si mesmo.”
Os Espíritos, respondendo a Roustaing, afirmam que o Espírito só volta à vida
material por castigo. Se é humanizado apenas após cometer a primeira falta,
depreende-se que se não houvesse falta não haveria reencarnação. Como Roustaing
explicaria a evolução do Espírito? Analise-se seu diálogo com um Espírito:
“(...) para o Espírito formado, que já tem inteligência independente,
consciência de suas faculdades, consciência e liberdade dos seus atos,
livre-arbítrio e que se encontra no estado de inocência e ignorância, a
encarnação, primeiro, em
terras primitivas, depois,
nos mundos inferiores e superiores, até que haja atingido a perfeição, é uma necessidade e não um castigo?”
“Não; a encarnação humana não é
uma necessidade, é um castigo, já o dissemos. E o castigo não pode preceder a
culpa.
O Espírito não é humanizado, também já o
explicamos, antes que a primeira falta o tenha sujeitado à encarnação humana.
Só então ele é preparado, como igualmente já o mostramos, para lhe sofrer as
consequências.” (1º vol., pág.
317)
Em Kardec, aprende-se que o progresso do Espírito é irreversível, o que é
racional, pois se não houvesse a irreversibilidade do progresso espiritual não
haveria segurança nem estabilidade no Universo.
O Livro dos
Espíritos - 118. Podem
os Espíritos degenerar?
“Não; à medida que avançam, compreendem o que os distanciava da perfeição.
Concluindo uma prova, o Espírito fica com a ciência que daí lhe veio e não a
esquece. Pode permanecer estacionário, mas não retrograda.”
Roustaing admite possa um Espírito que já desempenhou funções elevadas no Mundo
Espiritual ser tomado pela inveja, pelo orgulho, etc., o que evidencia uma nova
versão para a “queda dos anjos”, conforme a teologia Católica Romana e, também,
a Protestante.
“Já tendo grande poder sobre as
regiões inferiores, cujo governo aprenderam a exercer, no sentido de que, sempre sob
as vistas dos Espíritos prepostos à missão de educá-los e sob a do protetor
especial do planeta de que se trate, aprendem a dirigir a revolução das
estações, a regular a fertilidade do solo, a guiar os encarnados,
influenciando-os ocultamente, muitos acreditam que só ao merecimento próprio
devem o que podem e, desprezando todos os conselhos, caem. É a queda pelo
orgulho.
Outros, por nem sempre compreenderem a ação poderosa de Deus, não admitem haja
uma hierarquia espiritual e acusam de injustiça aquele que os criou, porquanto
é Deus quem cria, não o esqueçais. Esses os que caem por inveja.
Até o ateísmo –
por mais impossível que pareça – até o ateísmo se manifesta naqueles pobres
cegos colocados no centro mesmo da luz. (...) Nesse caso, sobretudo nesse caso,
mais severo é o castigo. É um dos casos de primitiva encarnação humana.
Preciso se torna que os culpados sintam, no seu
interesse, o peso da mão cuja existência não quiseram reconhecer.
Qualquer que
seja a causa da queda, orgulho, inveja ou ateísmo, os que caem, tornando-se,
por isso, Espíritos de trevas, são precipitados nos tenebrosos lugares de encarnação
humana, conforme o grau de culpabilidade, nas condições impostas pela
necessidade de expiar e progredir.” (1º vol., pág. 311)
Kardec obtém dos Espíritos Superiores resposta que deixa muito claro que o
Espírito que atingiu a humanização não retorna jamais às formas animais, o que
contraria frontalmente a teoria da Metempsicose esposada por Roustaing:
O Livro dos
Espíritos - 612. Poderia
encarnar num animal o Espírito que animou o corpo de um homem?
“Isso seria
retrogradar e o Espírito não retrograda. O rio não remonta à sua nascente.”
Em Roustaing, vê-se que, além de admitir a Metempsicose, afirmam seus
interlocutores possa um Espírito voltar à Terra, ou a outros mundos, animando
corpos primitivíssimos, como larvas!
“Haveis dito que os Espíritos destinados a ser humanizados, por terem errado
muito gravemente, são lançados em terras primitivas, virgens ainda do
aparecimento do homem, do reino humano, mas preparadas e prontas para essas
encarnações e que aí encarnam em substâncias humanas, às quais não se pode dar
propriamente o nome de corpos, nas condições de macho e fêmea, aptos para a
procriação e para a reprodução. Quais as condições dessas substâncias humanas?”
“São corpos ainda rudimentares. O
homem aporta a essas terras no estado de
esboço, como tudo que se
forma nas terras primitivas. O macho e a fêmea
não são nem desenvolvidos, nem fortes, nem inteligentes.
Mal se arrastando nos seus grosseiros invólucros, vivem, como os animais, do
que encontram no solo e lhes convenha.
As árvores e o terreno produzem abundantemente para a nutrição de cada espécie.
Os animais carnívoros não os caçam. A providência do Senhor vela pela
conservação de todos. Seus únicos instintos são os da alimentação e os da
reprodução.
Não poderíamos compará-los melhor do que a criptógamos carnudos. Poderíeis
formar idéia da criação humana, estudando essas larvas informes que vegetam em
certas plantas, particularmente nos lírios.” (págs. 312 / 313)
Autenticidade
da Encarnação de Jesus:
Kardec mostra Jesus como o modelo mais perfeito para a evolução humana, logo, o
seu corpo deveria ter a mesma constituição do corpo daqueles aos quais ele
deveria servir de modelo, e seu testemunho basear-se na verdade.
O Livro dos
Espíritos - 625. Qual o tipo
mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo?
“Jesus.”
O Livro dos
Espíritos - 624. Qual o
caráter do verdadeiro profeta?
“O verdadeiro profeta é um homem de bem, inspirado por Deus. Podeis
reconhecê-lo pelas suas palavras e pelos seus atos. Impossível é que Deus se
sirva da boca do mentiroso para a ensinar a verdade.”
Roustaing mostra um Jesus que estaria fingindo estar encarnado, desde o seu
nascimento até a sua morte, que teria sido também um simulacro, uma verdadeira
encenação teatral. Além do mais, ainda o chama de um Deus milagrosamente encarnado! (1º vol., págs. 242 / 243)
“(...) um homem tal como vós
quanto ao invólucro corporal e, ao mesmo tempo, quanto ao Espírito, um Deus:
portanto, um homem-Deus.” (pág. 242)
Aqui, é declarado que o invólucro corporal de Jesus era igual ao de todos nós...
Kardec afirma categoricamente que Jesus teve um corpo carnal e um corpo
fluídico, como todos encarnados temos:
“A estada de Jesus na Terra
apresenta dois períodos: o que precedeu e o que se seguiu à sua morte. No
primeiro, desde a sua concepção até o nascimento, tudo se passa, pelo que
respeita à sua mãe, como nas condições ordinárias da vida. Desde o seu
nascimento até a sua morte, tudo, em seus atos, na sua linguagem e nas diversas
circunstâncias de sua vida, revela caracteres inequívocos de corporeidade.
(...) também forçoso é se conclua que, se Jesus sofreu materialmente, do que
não se pode duvidar, é que ele tinha um corpo material de natureza semelhante
ao de toda gente.”
“Aos fatos materiais juntam-se fortíssimas considerações morais.
Se as condições de Jesus, durante sua vida, fossem as dos seres fluídicos, ele
não teria experimentado nem a dor, nem as necessidades do corpo. Supor que
assim haja sido, é tirar-lhe o mérito da vida de privações e de sofrimentos que
escolhera, como exemplo de resignação. (...) e fazer crer num sacrifício
ilusório de sua vida, numa comédia indigna de um homem simplesmente honesto,
indigna, portanto, e com mais forte razão de um ser tão superior. Numa palavra,
ele teria abusado da boa fé dos seus contemporâneos e da posteridade. Tais as
consequências lógicas desse sistema, consequências inadmissíveis, porque o
rebaixariam moralmente, em vez de o elevarem.
Jesus teve, pois, como todo homem, um corpo carnal e um corpo fluídico, o que é
atestado pelos fenômenos materiais e pelos fenômenos psíquicos que lhe
assinalaram a existência.” (A Gênese,
cap. XV, itens 65 e 66)
Roustaing mostra um Jesus que estaria fingindo estar encarnado, que fingia
alimentar-se, desde o seu nascimento. Seria o guia
e modelo enganando que
mamava, que comia, que bebia, que sofria e que desencarnou?
“Quando Maria, sendo Jesus, na
aparência, pequenino, lhe dava o seio – o leite era desviado pelos Espíritos
superiores que o cercavam, de um modo bem simples: em vez de ser sorvido pelo
“menino”, que dele não precisava, era restituído à massa do sangue por uma ação
fluídica, que se exercia sobre Maria, inconsciente dela.” (1º vol, pág. 243).
“Os Espíritos superiores que o cercavam em número, para vós, incalculável,
todos submissos à sua vontade, seus dedicados auxiliares, faziam desaparecer os
alimentos que lhe eram apresentados e que não tinha para ele utilidade. Aqueles
Espíritos os subtraiam da vista
dos homens, de modo a lhes causar completa ilusão, à medida que parecia ser ingeridos por Jesus,
cobrindo-os, para esse fim, de fluidos que os tornavam invisíveis.” (1º vol, págs. 262/263).
Aparição de
Moisés e Elias:
Inegavelmente, as afirmações mais claras a respeito da reencarnação, contidas
no Novo Testamento, encontram-se nos Evangelhos de Mateus (17: 10-13) e de
Marcos (9: 11), onde se lê que Jesus dialogou com Moisés e Elias no
Tabor, diante dos discípulos Pedro, Tiago e João. Questionado quanto à
identidade de Elias, o Mestre afirma categoricamente que João Batista foi a
reencarnação do Profeta Elias.
Em Roustaing, de maneira fantasiosa e completamente inverossímil, numa
tentativa de desacreditar a reencarnação, misturando fatos e fantasias, é
declarado que Moisés, Elias e, consequentemente, João Batista são o mesmo
Espírito, e que ali, no Monte Tabor, um outro Espírito tomou a aparência de
Moisés e conversou com Jesus. Vê-se aí, mais uma vez o ilusionismo, para não
dizer a falsidade da obra de Roustaing:
“O que, porém, Jesus naquela
ocasião não podia nem devia dizer e que agora tem que ser dito é o seguinte:
Moisés – Elias – João Batista –
são uma mesma e única entidade. Estamos incumbidos de vos revelar isso, porque
chegou o tempo em que se tem de “realizar” a “nova aliança”, em que todos
os homens (Judeus e Gentios) se têm que abrigar debaixo de uma só crença, da
crença – em um Deus, uno, único, indivisível, Criador incriado, eterno, único
eterno: o Pai; em
Jesus-Cristo, vosso protetor, vosso governador, vosso mestre: o Filho; nos Espíritos do Senhor, Espíritos
puros, Espíritos superiores, bons Espíritos que, sob a direção do Cristo,
trabalham pelo progresso do vosso planeta e da sua humanidade: o Espírito Santo.” (2º vol., págs
497 / 498)
A obra é volumosa, pesada, extremamente repetitiva, escrita em tom catedrático,
pretensioso, que nos remete diretamente a “O Livro dos Espíritos”, item 104, no
magistral estudo que o Codificador faz a respeito da “Escala Espírita”, quando
se refere aos Espíritos pseudo-sábios. São Espíritos pertencentes a comunidades
espirituais que teimam em manter erros doutrinários relativamente à
interpretação da Mensagem Cristã, para as quais o Espiritismo representa grande
perigo por esclarecer a Humanidade.
A respeito desses Espíritos, Emmanuel faz séria advertência, que serve também
como alertamento, diante dessa verdadeira “onda editorial” que está alimentando
a vaidade de médiuns invigilantes e enriquecendo editoras: “As próprias esferas mais
próximas da Terra, que pela força das circunstâncias se acercam mais das
controvérsias dos homens que do sincero aprendizado dos espíritos estudiosos e
desprendidos do orbe, refletem as opiniões contraditórias da Humanidade, a
respeito do Salvador de todas as criaturas.” (“A
Caminho da Luz,” cap. 12),
Felizmente, a onda de roustainguismo está passando. Mas, como existem ainda
muitos volumes dessa obra em bibliotecas e livrarias, animamo-nos a fazer estas
anotações.